domingo, 17 de maio de 2009

Memória em Branco e Negro - Debate 26/05/09 - SP

Memória em Branco e Negro: olhares sobre São Paulo (Editora UNESP – 1998), livro de Teresinha Bernardo, será o centro do debate no próximo dia 26 de maio, terça-feira, às 18h30, promovido pelo CEDEM – Centro de Documentação e Memória da UNESP.

O livro abarca a dimensão da lembrança como fundamental para revelar um passado vivido por descendentes de africanos e italianos, nas primeiras décadas do século XX, na cidade de São Paulo. São múltiplas as cidades que vão sendo recuperadas através das lembranças, na medida em que uma mesma cidade contempla relações sociais, que também são raciais, vividas por segmentos diferentes de sua heterogênea população.

O tema interessa aos estudiosos de São Paulo e de todas as cidades, aos que se dedicam às questões de gênero, gerações e relações raciais, mas muito especialmente a todos aqueles que vivem na cidade, independentemente de sua ciência, cor, sexo e idade.

Expositora: Teresinha Bernardo, Mestre e Doutora em Ciências Sociais – PUC/SP, Antropóloga e Professora da PUC/SP

Debatedores: Márcia Merlo, Mestre e Doutora em Ciências Sociais – PUC/SP, Antropóloga, Professora da PUC/SP e da Universidade Anhembi Morumbi - UAM

Acácio Almeida, Mestre em Ciências Sociais – PUC/SP, Doutor em Sociologia - USP,
Antropólogo, Professor da PUC/SP e Vice-Coordenador da Casa das Áfricas

Mediadora: Jacy Machado Barletta, Mestre em História e Historiografia da Educação - USP, Foi Professora da rede pública de ensino e é Historiógrafa do CEDEM/UNESP

Inscrições gratuitas c/ Sandra Santos pelo e-mail: ssantos@cedem.unesp.br

Data e horário: 26 de maio de 2009 (terça-feira) às 18h30

Local: CEDEM/UNESP - Centro de Documentação e Memória
Praça da Sé, 108 - 1º andar - metrô Sé - (11) 3105 - 9903 - www.cedem.unesp.br

Curso para professores no Museu Lasar Segall (SP)

Lasar Segall e Grete Stern pelo âmbito de seus percursos de criação e nossas leituras
Museu Lasar Segall - Data: 23 de maio

No dia 23 de maio, o Museu Lasar Segall oferece o curso "Lasar Segall e Grete Stern pelo âmbito de seus percursos de criação e nossas leituras". Para professores que queiram se aprofundar na leitura das obras desses dois artistas e de seus processos de criação.
Serão desenvolvidas atividades nas exposições e no ateliê.

Data: Dia 23/5 (sábado), das 10h às 18h
Inscrições abertas de terça a sexta-feira das 9h00 às 18h00, somente por telefone com a área de ação educativa: 5574-7322
Evento gratuito
Rua Berta, 111 - Vila Mariana

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Curso de Danças Brasileiras no SESC - SP

Danças Brasileiras

Com base em técnicas de conscientização corporal, os participantes vivenciarão as danças e ritmos populares brasileiros tais como: coco, cacuriá, jongo, ciranda, frevo e maracatu . Serão explicitados também o contexto social em que essas manifestações acontecem. Com Professora Janaína do Núcleo Brasílica. A partir de 16 anos. Vagas limitadas. Inscrições a partir de 01/06 na central de atendimento. Sala Delta - 7ºandar.

R$ 28,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado e dependentes, a partir de 60 anos e estudantes).

De 08/06 a 31/08. Segundas das 20h às 21h30.

SESC Consolação

CURSOS DE CURTA DURAÇÃO
Cursos com a duração de 3 meses, dividido em três núcleos Dança, Artes Marciais e Bem Estar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Secretaria de cultura pra que?

Olá, amigos.
Estou organizando a MundiArt – Mostra de Artes Plásticas, que será realizada no perído16 de maio a 15 de junho de 2009, na Galeria do Instituto Cultural Brasil Estados Unidos, rua Dr. Francisco Portela, 2772, São Gonçalo – RJ.

São mais de 50 as obras que fazem parte da MundiArt – Mostra Internacional de Arte Contemporânea. A exposição tem curadoria da artista plástica e arte-educadora Lya Alves. A exposição é plural, aberta a diferentes estilos e técnicas.
Os artistas internacionais são: (Itália) Piero Ceragioli, Paolo Vitale, Carlo Volpicella, Giovanni Nappa, Imerio Rovelli, Luigi Latino, Fabio Agace, Fabiola Barna, Moreno Gerzeli, Enrico Thanhoffer ; (Argentina) Nicky Chiarello; (Polônia) Veronica Korzekwa; (México) Alfredo Linch, Mirta Beatriz Iglesias Dávila, Daniel Barreras; (U.S.A.) J.F.Bautista; (Portugal) Francisco Urbano, Jose Miguens; (Alemanha) Detlev Foth; (Bósnia e Herzegovinia) Harun Hosic; (Espanha) Jose Manuel Portillo Carnero, Mariangeles Martinez Castro; (Holanda) Jeroen Van Paasen; (Canadá) Alvis Zujevs; (Bolívia) Prisca.
A mostra conta com artistas brasileiros de 8 Estados: (Rio de Janeiro) Lya Alves, Carol Neves, Diane Vidal, Adilson Pinto, Fernanda Franco, Anna Nunes, Jéter Aguiar, Regina Guimmarães, Zenaide Azevedo, Denise Velasco, Kátia Del Cistia, Dyandréia Portugal, Paulo Alves, De Luna Freire, Cristiane França, André, Ana Tavares, Alex Suliano, Davi Baltar, Carla Verena, Angela Mello, Tânia Sant'anna, Conceição Barros; (Goiás) Yderval Britto; (Minas Gerais) Madá Papadopoulos, Márcio Carvalho, Agatha Salgado; (Paraná) Gri Alves; (São Paulo) Carlos Dias, Ângela Ferrara, Paula França; (Amazonas) Leonardo Tapajós, Marcelo Ramos; (Bahia) Carol Queiroz; (Pernambuco) Edmar Sales.

Todos estão convidados para o evento. Mas antes de irmos ao vernissage, vamos conhecer um pouco a estória da Mostra.
Inicialmente, a MundiArt seria realizada na Associação Fluminense de Belas Artes. Convidei amigos, artistas, imprensa, divulguei. Neste período, a AFBA estava numa disputa judicial com a Ampla, pelo espaço: A Ampla estava reivindicando o espaço cedido anteriormente pela CERJ. Quem tem mais dinheiro, compra o melhor advogado, e claro, a AFBA perdeu. Assim, ficou decidido que á Ampla pertencia o terreno e a AFBA, fundada em 27 de outubro de 1940, e que tem como sócios fundadores: Hamilton Sholl, Edgar Parreiras, Gerson de Azevedo Coutinho, José de Castro Botelho, Miguel R. Caplloch, Pedro Campofiorito, Dolores Márquez Caplloch, Florisbela de Castro Nogueira, Moysés Nogueira as Silva, Aluízio Valle, foi despejada. Apesar de toda a pressão feita pela imprensa, achávamos que isso não ocorreria. Então , recebo um telefonema do presidente da AFBA:“Lya, o oficial de justiça está aqui, os quadros do acervo estão na rua e estou esperando um caminhão chegar para levar. Não poderemos realizar a MundiaRt nem nenhuma programação no local.”
Iniciei uma busca por locais para a Mostra, avisei aos 53 artistas internacionais que não enviassem seus trabalhos para a MundiArt, pois o trabalho seria extraviado. Por sorte, isso foi no início de março, e como a exposição estava agendada para 8 de maio, a maioria dos artistas ainda não tinha enviado seus trabalhos. Mas a tela de Jeroen Van Paassen voltou para a Holanda porque não havia ninguém para receber no endereço da AFBA, porque estava fechada, e mesmo no correio, não conseguimos rastrear porque ele enviou por tranportadora. Mas graças à persistência do artista holandês, teremos um videoarte de Jeroen, que não desisitiu, apesar do prejuízo.
Mas, se contávamos em março com 53 artistas internacionais, ficamos apenas com 24 que não se entregaram ao medo de expor num país que despeja seus próprios artistas.
Continuei buscando espaços culturais pela cidade, visto que tudo estava bem antecipado, então Denise Velasco entrou em contato comigo. Ela estava prestes a ser nomeada superintedente de artes plásticas da Fundação de Artes de São Gonçalo (FASG) e começamos a trabalhar no projeto juntas. Ela me apresentou à recém-nomeada superintedente de artes plásticas, Lucidalva de Paula, que prontamente colocou milhões de empecilhos para a realização da MundiARt em São Gonçalo.
Fui então apresentada ao secretário de cultura Carlos Ney, que aprovou o projeto imediatamente. Enviei então e-mail a todos os artistas nacionais e internacionais, e á imprensa, um novo release com novo endereço e nova data e mandamos fazer os convites e folders. Isto foi em 13 de abril. Então no dia 29 de abril Denise Velasco me liga avisando que a MundiArt foi cancelada porque houve um problema jurídico e a nomeação dela também não saiu. Após conseguir patrocínio para paisagismo, coquetel, luz, e decoração para o vernissage, Denise disse que houve uma denúncia de que as inscrições para a MundiARt foram cobradas. Marquei reunião na FASG no dia seguinte.fiquei lá de 10:00 horas até 21:00 horas, fui em todos os gabinetes, falei com tantos quantos pude falar:subsecretários, secretários, etc...e nada . fui chamada de estelionatária, 171, e mais uma série humilhações passei, inclusive a ameaça de ser processada. Engraçado que a superintendente dedica seu tempo quase integralmente a realizar feiras de artesanato pela FASG, recebendo dinheiro pelo aluguel das suas barracas para os eventos, mas isto pode...
No dia 4, mais uma reunião estilo via-crúcis com o secretário Carlos Ney, que me explicou o problema jurídico que havia: terceiros não podem ganhar dinheiro com espaços públicos. Explicou-me a falha de comunicação pois ele entendeu que era um grupo de artistas e não sabia que a inscrição era paga, e por este motivo a exposição deveria ser cancelada- a 11 dias do evento. Nunca escondi nada e o regulamento estava no site, publicamente. As inscrições eram para cobrir as despesas do evento(convites, banners, folders, telefone, criação manutenção de site do evento)e, lógico, o trabalho de três meses que realizei sozinha. Tentamos junto ao departamento jurídico um alternativa para solucionar o problema, visto que a MundiARt não foi planejada para a FASG, mas para a AFBA, e a FASG estaria apenas cedendo espaço para o trabalho, sem nenhum ônus para a insttituição e eu tampouco conhecia as regras do local. A superintendente Lucidalva, que já havia mencionado a possibilidade de um processo, disse que se isto viesse à tona os danos seriam muito maiores. Eu perguntei:”e quem denunciaria, se só você pode provar?”-A “prova do crime” em questão era uma cópia do regulamento retirada do meu site.”eu reitrei a página do site assim que você falou que era problema, dias atrás”.mas ela não quis aceitar, como observamos desde o primeiro contato. Denise Velasco havia redigido um ofício à prefeitura isentando a prefeitura de toda a responsabilidade pela MundiARt, mas não resolveu. O documento incluía a obsevação de que os aristas internacionais não pagaram taxa de inscrição, e somente os nacionais arcaram com esta despesa, excluindo um artista que faz trabalho voluntário. O secretário leu o documento e falou que ia levar ao setor jurídico para avaliação, porque isto poderia atenuar os problemas.A superintendente começou a levantar outra questão: e se os quadros forem roubados ou danificados?como a FASG arcaria com esta responsailidade? Expliquei que na ficha de inscrição havia um termo onde o artista não responsabilizaria a prdução do evento por nenhum ano:roubo, incêndio, etc.Ela insistiu que os quadros deviam ter seguros e deviam ser registrados antes da exposição. Eu, Denise e o secretário concordamos que não é comum artistas fazerem seguro de seus quadros porque isto onera o artista, anão ser para artistas de quadros de valor elevadíssimo. Bem, a ex-presidente do sindicato dos artesãos (Lucidalva) começou a levantar esta questão de maneira muito estranha.
O secretário pediu que ligássemos para o ICBEU, onde agendamos a segunda edição da mostra e tentássemos fazer lá, na mesma data. Estávamos a 11 dias da mostra. Convites e folders(caros) jogados fora. Ligamos para o ICBEU e na mesma hora a diretora nos recebeu de portas abertas e com enorme alegria em sua belíssima galeria.
O secretário pediu apenas que, uma vez que o ICBEU abriu as portas, esperássemos até o dia seguinte para a decisão do jurídico. Eu falei que não queria mais tratar com a FASG porque quem ia me garantir que faltando menos dias para o evento, não seria cancelado de novo? Será que não basta sujar a imagem do paia lá fora? E a minha aqui dentro?
A julgar pela postura da superitendente Lucidalva, era certo esperar por isso. Mesmo porque ela mesma me apresentou quadros que foram danificados em eventos da FASG, e eu presenciei uma artista reclamando de como foi maltratada pela superintendente e também que uma tela sua foi rasgada. Se Lucidalva estava insinuando que os trabalhos poderiam ser danificados, era melhor acreditar...contra fatos não há argumentos. Se a MundiARt ia sair a custo zero para a Prefeitura, podia sair pra mim a um preço muito caro.
Nestes dias de reuniões e espera de muitas horas para ser atendida, presenciei muitas cenas: uma recepcionista da FASG horrorizada porque a superintendente Lucidalva atendeu um artista aos berros só porque ele pediu para falar com Denise Velasco(que ainda não foi nomeada, e talvez não seja, afinal, ela trabalha muito...). Presenciei a superintendente ter mais força do que o secretário por motivos políticos. E também o descontentamento dos artistas de São Gonçalo que não podem contar mais com a Secretaria de Cultura, que outrora funcionava tão brilhantemente.
Além disso, oque corre á boca miúda nos corredores é que “A FASG, antes de ser um local de cultura, é um órgão político”.

Então hoje, saiu a resposta do departamento jurídico: “não”. Eu já esperava por isso. Mas confesso que achei que tinha terminado por aí.
Mas Denise perguntou:”como vamos fazer com as pessoas que vão para lá?O evento foi muito divulgado no Brasil todo, não apenas na cidade!!Como vamos enviar as pessoas da Casa das Artes para o ICBEU?”
A resposta que ouviu: “Então vamos aproveitar a oportunidade e criar um evento no dia, assim, quando as pessoas chegarem, não precisarão ir à MundiArt.”
De fato, não acabou. Quem sabe eles arrumam um pretexto para me processar até lá? Denise ainda não foi nomeada, “será que será”...? Aguardem cenas do próximo capítulo.

Peço perdão pelo longo e-mail.
Aqueles que se sentiram indignados com a Fundação de Artes de São Gonçalo-RJ, por favor encaminhem repassem este e-mail para seus amigos e para o gabinete da Prefeita de São Gonçalo, a fim de que esta tome conhecimento de como os artistas de São Gonçalo estão sendo desrespeitados no município:

evaniagpb@ig.com.br

Atenciosamente
Lya Alves
www.intercambioculturalarts.com

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A figura humana nas aulas de artes: uma proposta de trabalho na educação infantil bilíngue.

Selma de Assis Moura e Ariane D’Avila Mantovani

Texto complementar ao workshop apresentado no "3rd Brazilian Bilingual Schools Conference" / 3º Congresso Brasileiro das Escolas Bilíngues, em 02 de maio de 2009

O propósito deste trabalho:

Queremos compartilhar uma reflexão sobre a experiência de trabalho nas áreas de artes e linguagem desenvolvida com crianças de 5 anos em uma escola bilíngue de educação infantil na cidade de São Paulo. Nesta escola, como ocorre em muitas outras escolas bilíngues, as crianças passam pelo menos quatro horas diárias em um programa de imersão em segunda língua (no nosso caso, inglês) que não é apenas a língua que se pretende ensinar, mas também a língua através da qual os conteúdos curriculares são ensinados.

Vivemos, portanto, um duplo desafio: o de ensinar os conteúdos curriculares e uma segunda língua a crianças que são, quase todas, brasileiras e falantes nativas de português. Há na escola também algumas crianças para quem o inglês é a primeira língua, ou mesmo uma segunda língua materna. Para garantir um ambiente de circulação do inglês e maximizar a exposição das crianças à segunda língua, a comunicação entre a equipe da escola e as crianças ocorre quase totalmente neste idioma, embora o português seja eventualmente utilizado em atividades específicas e apareça, na maior parte do tempo, na comunicação entre as crianças. Conforme as crianças demonstram maior compreensão do inglês, as professoras as incentivam a falar mais nesta língua.
Um dos eixos de trabalho na escola é constituído pelas Artes Visuais. Presente de muitas formas na vida das crianças, as artes constituem uma forma privilegiada de ajudá-las a compreender o mundo, organizar seus pensamentos, expressar ideias, desenvolver o domínio de técnicas expressivas e ampliar seu potencial criativo. Seu principal objetivo é o desenvolvimento estético e a educação da sensibilidade. Mas como menciona o próprio Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, frequentemente as artes acabam se transformando em uma série de técnicas desconexas, que assumem função acessória a outras áreas, como a decoração, a elaboração de adereços, a preparação de eventos e outras funções que não contribuem com o aprendizado das crianças sobre artes.

Quisemos superar essa visão utilitarista de artes e avançar rumo a uma visão de artes como linguagens, e por isso teve lugar na escola um processo de formação em que pudemos refletir sobre o que é arte e o que é ensinar arte na escola. Algumas professoras tinham mais experiência do que outras, mas todas se engajaram de alguma forma nesse processo de formação, que nos ajudou a reconstruir nossa própria prática (MOURA, 2008).

A bagagem essencial do professor é seu repertório profissional que é adquirido pela prática. Porém, não é a prática por si só que é formadora, ela deve sempre ser acompanhada da reflexão sobre a experiência, pois é a reflexão sobre a experiência que é formadora e não a experiência por si só. (NÓVOA, 2004)
Este desafio se coloca a todas as professoras polivalentes que atuam na educação infantil. Mas em nosso caso, dada a especificidade de se tratar de uma escola bilíngue, mais um desafio se coloca: ensinar uma língua e ensinar através de uma língua. Para nós, que utilizamos a comunicação na segunda língua como forma de ensinar a própria língua e os conteúdos pretendidos, ambos os processos são concomitantes.

A experiência que escolhemos compartilhar teve lugar sob a forma do projeto “Body in Arts”, desenvolvido com a turma de 5 anos. A escolha de trabalhar com este tema, o corpo humano, tem a ver com os interesses e necessidades das crianças nesta idade, que estão construindo seu esquema corporal e sua auto-imagem, e permitiu construir uma grande variedade de conhecimentos.

As crianças tiveram contato com obras de vários pintores e escultores, o que permitiu que ampliassem seu repertório imagético ao perceberem uma grande variedade de possibilidades de expressão para o tema do corpo humano. Partimos de suas ideias iniciais, que foram sendo confrontadas com outras ideias, reorganizando-se, ampliando-se e aproximando-as da produção cultural em artes. Como afirma Iavelberg (2006):

"Cabe à escola abrir o leque no ensino das diversas áreas de conhecimento. Situamos a área de arte que, entre outras linguagens, circunscreve a aprendizagem do desenho que, aprendido na escola, certamente promoverá a participação cultural dos alunos e a interação com a diversidade das culturas."

A documentação do processo de aprendizagem através de fotografias, cópias das produções das crianças, anotações de suas falas e registros reflexivos pela professora foi essencial para formar um panorama da progressão das aprendizagens das crianças, como mostramos neste trabalho. É com base na experiência que desenvolvemos e no que aprendemos que compartilhamos nossa reflexão e nossa proposta, esperando assim contribuir com o trabalho de outros colegas que, como nós, vivem o duplo desafio de ensinar artes e uma segunda língua de forma integrada.

Por que trabalhar com a figura humana nas aulas de artes?

O corpo é o centro do conhecimento, das percepções, das sensações, da estruturação da identidade, da organização do pensamento. No dizer de Edith Derdyk, pesquisadora, artista, é pelo corpo que o mundo interior, psíquico, se comunica com o mundo exterior, social. E como nos ensinou Piaget, a gênese da inteligência da criança é sensório-motora, dá-se no plano da ação motriz, predecessora e parte constituinte de todo o pensamento. De uma idéia inicial indiferenciada entre seu corpo e o corpo da mãe, o ser humano gradualmente estrutura sua percepção de si como indivíduo. A apropriação da imagem de si, a construção de seu esquema corporal e a afirmação como sujeito caminha de uma visão egocêntrica para uma progressiva descentração, necessária à formação da subjetividade de cada pessoa.

Desde muito cedo as crianças, em sua exploração do mundo e dos materiais, têm acesso a riscantes que imprimem marcas sobre superfícies. No início essas marcas são impressões de seus gestos, e não expressam um desejo de representação. Porém, a criança logo percebe que seus movimentos causam impressões gráficas, e passam a variar os movimentos observando as mudanças produzidas. Assim, as garatujas passam a ordenar-se e podem estruturar-se em padrões lineares, circulares, espiralados, conforme as experiências que as crianças vão construindo.

Uma revolução copérnica no pensamento da criança ocorre quando ela percebe que estas marcas podem representar algo. A associação entre marcas gráficas e uma realidade que pode ser representada é uma construção cognitiva que permite à criança acrescentar ao seu desenho uma intenção de representar: uma nova possibilidade de pensamento, agora simbólico, se apresenta, e será experimentada pela criança com entusiasmo. As garatujas passam a ser nomeadas: a criança diz: “Isto é um cavalo, este sou eu, esta é minha mãe...”, mesmo que seus traços ainda pareçam indistintos para nós.

Essas experiências com a representação vão gradualmente estruturando o desenho da criança em padrões mais figurativos. Frequentemente a criança procura representar a si mesma e às pessoas com as quais convive: família, colegas, professores, além dos ‘seres’ que lhe interessam: animais, brinquedos, etc. As experiências de vida da criança passam a se revelar em seus desenhos.

"Além do conhecimento de si mesma, que a criança tem ao desenhar, ganha compreensão do mundo. Ela desenha porque existe desenho no mundo. Aprende a ver e a executar o que vê. Tende a assimilar níveis de conhecimento e produção artística e estética cada vez mais complexos, agindo sobre os objetos de conhecimento (desenhos) de diversas culturas, tempos e lugares". (IAVELBERG, 2006)

O desenvolvimento do desenho da criança se dá de forma indissociável ao seu desenvolvimento como um todo. A linguagem verbal, o pensamento lógico, a psicomotricidade, a socialização e a afetividade se desenvolvem ao mesmo tempo, pois a criança é una.

Desenhar a figura humana, ou seja, a si mesma e aqueles com quem convive, é significativo para a criança, pois permite que pense sobre si mesma, seu corpo, sua personalidade.

"A construção da figura humana, em sua gênese, é um ótimo pretexto para observarmos o mapa da ampliação da consciência, através de um documento gráfico vivo e orgânico; é um convite para flagrarmos o processo de construção da visão de mundo da criança".(DERDYK, 2003)

Ao estudarmos a história da arte percebemos claramente que em todos os tempos o ser humano se ocupou de sua representação: na Grécia antiga escultores como Praxíteles e Fídias procuravam um ideal de beleza, simetria e harmonia que representasse externamente as qualidades humanas. No antigo Egito a arte procurou fixar a história e a magia sob a forma de pinturas, desenhos e esculturas em que se representava não o que se vê, mas o que se sabe. A pintura clássica retratou tanto a constituição social e econômica das sociedades quanto o imaginário religioso que a cristandade pretendia transmitir aos fiéis. A arte moderna procurou desconstruir a idéia unívoca de representação, ocupando-se do corpo humano para lhe dar um caráter multidimensional como vemos em Picasso. E a arte contemporânea ainda se debruça sobre a representação do corpo humano, eventualmente como crítica aos padrões estéticos vigentes .

O que nos interessa neste texto é pensar sobre como o trabalho com a figura humana nas aulas de arte na educação infantil pode ser contextualizado na necessidade do ser humano de compreender a si mesmo. As artes, como linguagens que são, comunicam ideias, preocupações e visões de mundo, permitindo uma revisão, uma melhor compreensão de quem somos e qual nosso lugar no mundo. Na construção da representação da figura humana aprendemos mais sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre os limites Eu-Outro, essenciais na construção da identidade, sobretudo com crianças pequenas.

Tal como a apreensão da forma depende da consistência e da sinalização de suas fronteiras, para a criança a consciência de si depende da percepção de um eu que se distingue de um outro. Qual é a fronteira entre o eu e o mundo exterior, para a criança? A criança confunde essas divisórias, promovendo uma fusão contínua entre o dentro e o fora, entre o psíquico e o físico, confirmando a ausência de um dualismo que instrumentalize o recorte de sua figura no mundo (DERDYK, 2003)

Pensamos, assim, ser essencial incorporar o estudo da figura humana nas aulas de artes, e procuramos uma proposta de trabalho que tome as crianças como autoras de seus próprios conhecimentos e como capazes de se relacionar com a produção artística produzida historicamente pela humanidade, desenvolvendo assim seu percurso criativo de maneira informada pela cultura.

O projeto “Body in Arts”

Dada a importância do conhecimento do próprio corpo pela criança na construção de sua identidade e de sua relação consigo e com o mundo, estruturamos a proposta de trabalho com a figura humana sob a forma do projeto didático “Body in Arts”.
Dentre os objetivos traçados para este projeto esperávamos que as crianças pudessem:
• Manter e ampliar seu interesse nas aulas de artes;
• Ampliar seu conhecimento da língua pelo enriquecimento do vocabulário;
• Desenvolver apreciações de obras de arte como forma de compreendê-las, comunicar suas ideias a apropriar-se de sua linguagem;
• Experimentar diversas formas de representar o corpo humano;
• Ampliar a capacidade de criação através da manipulação de diferentes objetos e materiais, explorando suas características, propriedades e possibilidades de manuseio;
• Conhecer e experimentar algumas técnicas de representação, como o desenho com diferentes suportes e riscantes, e a modelagem com materiais diversos;
• Conhecer algumas obras de arte que representam a figura humana, contrastando-as;
• Ampliar o conhecimento de mundo através da ampliação do repertório estético no contato com obras de diversos pintores e escultores;
• Interessar-se pelas próprias produções, pelas de outras crianças e pelas diversas obras artísticas com as quais entram em contato, ampliando seu conhecimento do mundo e da cultura;
• Produzir trabalhos de arte utilizando a linguagem do desenho, da pintura, da modelagem e da construção, desenvolvendo o gosto, o cuidado e o respeito pelo processo de produção e criação.

Para atingir esses objetivos, organizamos os conteúdos sob a forma de fatos e conceitos, procedimentos e atitudes, conforme proposto por Zabala (1999). Nosso quadro de conteúdos ficou assim organizado:

Conteúdos Conceituais:
• Leitura de imagens dos artistas propostos: Van Gogh, Goya, Munch, Miró e Sandra Guinle;
• Desenhos de observação do próprio corpo, visto no espelho;
• Desenhos de observação dos colegas de sala;
• Pinturas representando figura humana;
• Auto-retrato;
• Modelagem com massinha representando a figura humana;
• Contato com uma artista contemporânea, Sandra Guinle;
• Nomes das partes do corpo, em inglês;
• Nomes dos materiais utilizados, em inglês;
• Verbos de ação relacionados a atividades artísticas: to draw, to paint, to color, etc

Conteúdos Procedimentais:
• Apreciação de suas próprias produções, das produções dos colegas de classe;
• Apreciação das reproduções dos artistas apresentados;
• Produção de desenhos, pinturas e esculturas sobre a figura humana;
• Produção de fundo para posterior continuação com a produção da figura, e vice-versa;
• Produção de auto-retrato com técnicas variadas;
• Variações de suportes e riscantes, com análise dos resultados obtidos;
• Desenhos livres após apreciação de reproduções das obras apresentadas;
• Desenhos de observação de pessoas;

Conteúdos Atitudinais:
• Prazer e gosto em desenvolver atividades artísticas;
• Disponibilidade para comunicar-se em duas línguas;
• Interesse pela exploração dos materiais de artes;
• Cuidado com os materiais;
• Respeito aos colegas e suas produções;
• Organização ao final das atividades;
• Aumento da capacidade de concentração;
• Desenvolvimento de gosto estético;
• Estímulo à criatividade e à auto-expressão.

É importante destacar o papel da pesquisa do vocabulário e das estruturas lingüísticas específicas a este trabalho, que envolve uma listagem dos nomes das partes do corpo e dos materiais oferecidos às crianças. Uma pesquisa sobre as obras e os artistas apresentados às crianças também é indispensável para dar segurança à própria professora, tanto no que diz respeito à arte em si quanto à linguagem necessária para comunicar e ensinar as crianças.

Essa é uma parte que não pode ser esquecida quando se trabalha conteúdo e língua de forma integrada. Para ensinar a língua é preciso sabê-la, o que parece evidente mas tem implicações nem sempre lembradas. Alguns conteúdos trazem um vocabulário que não faz parte da comunicação diária do professor e que pode ser desconhecido para ele. Portanto, é indispensável familiarizar-se com os termos específicos relacionados ao tema que se trata, sobretudo ao se trabalhar com projetos didáticos, que podem aprofundar-se em alguns aspectos ou mudar de direção durante seu andamento.
Também é importante prever quais serão os materiais necessários às atividades: livros de arte com obras relevantes, livros infantis sobre artes, lista de sites e museus virtuais, material para desenhar, pintar e modelar, superfícies variadas, espelhos, etc.

Informar os pais através de uma carta e dar sugestões de como podem criar em casa conexões com o que as crianças estão aprendendo na escola constitui uma maneira de enriquecer o trabalho pedagógico e aproximar os pais da escola, estabelecendo uma parceria que beneficia as crianças.

Além dessas medidas, o planejamento do professor também delineia uma série de estratégias para atingir estes objetivos, que vão se modificando e se ampliando ao longo do projeto: A proposição de rodas de apreciação de reproduções que apresentavam a figura humana por artistas como Miró, Van Gogh, Munch e outros; a visita a museus e espaços expositivos em visitas temáticas monitoradas; a produção de desenhos de imaginação, de observação e de memória; a construção de esculturas representando a figura humana; o desenho de auto-retrato diante do espelho; o trabalho individual, em dupla e em grupo na produção de obras da turma; a roda de apreciação das produções das próprias crianças; a construção de textos coletivos registrando aprendizados; a seleção de obras e a montagem de uma exposição com os trabalhos produzidos são algumas estratégias possíveis no âmbito deste projeto.
E como se trata de um projeto, a reapresentação dos conhecimentos construídos pelas crianças à comunidade sob a forma de um produto final compartilhado vem dar sentido social às aprendizagens. A proposta de apresentar uma exposição com os trabalhos das crianças valoriza estes trabalhos.

Avaliação das aprendizagens

Para documentar o processo de aprendizagem foi montado um portfólio para cada criança com amostras representativas de seu trabalho e sua evolução. O portfólio também continha fotografias, anotações da professora, relatórios, e tornou-se um documento que evidenciava e apoiava a aprendizagem das crianças, útil para elas mesmas, para as professoras e para os pais.

Documentar esta aprendizagem permitiu que todos percebessem como as produções das crianças foram se modificando. Pela observação de seu corpo, pela reflexão sobre as formas de representar, pela apreciação das obras de diferentes artistas, as crianças foram desenvolvendo sua observação, apropriando-se dos elementos figurativos que compõe a linguagem do desenho, experimentando o uso desses elementos em suas obras e encontrando mais prazer ao produzi-las.

“At the beggining of the project I drew the eyes (as) balls, the second I draw the eyes different. I learnt because I saw my eyes.” (Júlia H.)‏

Nesse trabalho as crianças aprenderam uma série de conhecimentos em arte que se relacionam a outras áreas do conhecimento e que as ajudaram a desenvolver-se de modo integral. Em um trecho da avaliação feita pela professora, colocada no portfólio de um aluno junto com suas atividades de desenho, alguns desses aprendizados foram evidenciados:

"Os momentos de troca e parceria contribuíram para que Marcelo e seus amigos começassem a perceber alguns detalhes que estão presentes no nosso rosto e fazem com que sejamos diferentes um dos outros. Através desses momentos de observação e de apreciação de outras obras de diferentes épocas e técnicas, as crianças começaram a utilizar o seu novo conhecimento em suas próprias produções, pois sabemos que a Arte é um produto da criatividade humana que, mediante conhecimentos, técnicas e um estilo todo pessoal, transmite uma experiência de vida ou uma visão de mundo, expressando verdades humanas e despertando emoções em quem a usufrui.
Luana: “Nossa, there’s a small ball in my eye, and it’s darker.”
Lucas: “Meu cabelo é bem claro, né?” (Lucas estava puxando conversa com a amiga Júlia H. ao se olhar no espelho e ver suas características físicas).
Júlia H: “Yes, but my hair is bigger”.
Priscilla: “I like my hair because it’s black. I’ll have to use a black pen to draw my hair.”
Bárbara: “A mouth da Ari is very big”.
Júlia P: “My nose has two balls, I think it’s funny. Look” (Júlia estava pedindo para Marcelo e Priscila olharem para dentro do seu nariz).
Marcelo: “My nose is big.”
Observando seu caderno de desenho, podemos perceber que Marcelo utilizou seu novo conhecimento em suas últimas produções, prestando cada vez mais atenção nos detalhes e nas formas. Além disso, sua coordenação motora está cada vez mais desenvolvida, apresentando avanços significativos no controle de seus movimentos e no tremor da linha. Entretanto, percebo que Marcelo utiliza muita força para segurar o lápis, fazendo com que se canse com mais facilidade e rapidez durante uma atividade. Procuro conversar com ele e mostrar que existem diversas maneiras que ele pode utilizar para segurar um riscante qualquer e que ele deve optar pelo que mais o agrada e lhe dê segurança.


A competência comunicativa das crianças varia muito, principalmente em função do tempo em que freqüentam a escola. Mas como podemos ver no excerto acima, as crianças conseguiram se apropriar da segunda língua e utilizá-la para expressar suas ideias e conhecimentos.

O aprendizado dos conteúdos trabalhados pela professora em artes se relaciona com o desenvolvimento das crianças como um todo, seja na construção de sua consciência corporal, no desenvolvimento psicomotor, na percepção e na atenção, na linguagem oral e na socialização. Isso não significa que a arte deve estar subordinada a outras exigências de formação das crianças, mas sim que o desenvolvimento infantil é integrado de tal forma que a ampliação de conhecimentos sobre artes (como em outras áreas) se reflete na formação da criança como um todo.

"Além do conhecimento de si mesma, que a criança tem ao desenhar, ganha compreensão do mundo. Ela desenha porque existe desenho no mundo. Aprende a ver e a executar o que vê. Tende a assimilar níveis de conhecimento e produção artística e estética cada vez mais complexos, agindo sobre os objetos de conhecimento (desenhos) de diversas culturas, tempos e lugares" [IAVELBERG, 2006].

Reflexões sobre o trabalho

Um projeto didático prevê uma grande participação das crianças na resolução de situações-problema, na proposição de atividades e na definição dos caminhos a seguir. Conosco, aconteceu de o projeto que inicialmente tinha sido pensado para durar um semestre e envolver as linguagens do desenho e da pintura, ganhar tridimensionalidade, saltando da superfície do papel para o espaço, e se prolongando pelo segundo semestre para estudarmos a modelagem e a escultura.

Essa guinada se deveu à descoberta, pela professora, das obras de Sandra Guinle, que tinham sido expostas no ano anterior em São Paulo na mostra “Cenas Infantis”. Encantada com a delicadeza das esculturas e com a temática da vida das crianças, a professora quis trazer aos seus alunos a oportunidade de conhecer esta artista.

Como no momento da realização do projeto não havia obras de Sandra Guinle expostas, foi através do site que as crianças puderam conhecer suas obras que retratam as brincadeiras e o dia-a-dia de crianças em esculturas de bronze de grande simplicidade e delicadeza.

Estabelecer uma comunicação com a artista através de e-mails aproximou as crianças da idéia de que o artista é uma pessoa real, alguém com uma história presente, e que elas também podem, se quiserem, tornar-se artistas no futuro. Sandra foi muito receptiva e acessível, e quis também ver o trabalho das crianças, que foi enviado por e-mail.

Este projeto foi se modificando durante seu percurso, e enriquecendo-se com o envolvimento das crianças e da professora. A reflexão permitiu que um equilíbrio fosse buscado: quando os desenhos das crianças começaram a mostrar um compromisso muito grande com a realidade representada, tanto em termos de formas quanto de cores, a sensibilidade da professora trouxe obras menos comprometidas com a verossimilhança entre a arte e a natureza, como Miró. Assim, buscou-se apresentar uma variedade de elementos da arte de que as crianças poderiam lançar mão em suas produções sem perder de vista suas características pessoais e seu pensamento de magia e fantasia.

Vimos o quanto o papel do professor como pesquisador é essencial na construção de seu percurso profissional e na realização de um trabalho sério e consistente em sala de aula. Procuramos superar a visão tradicional e utilitarista que coloca a arte a serviço de outras disciplinas, sem cair na tendência espontaneísta de simplesmente deixar que as crianças explorem materiais livremente e descubram por si o que há para aprender sobre artes.

Reconhecemos que esta mudança de paradigma implica pelo menos duas dificuldades: A primeira é que nós mesmas, como professoras, não vivenciamos um percurso autoral de construção de conhecimentos sobre artes em nossa educação escolar, e carregamos conosco nossas vivências como alunas, que precisamos superar. A segunda é que dá muito trabalho perceber e preencher possíveis lacunas de nossa formação docente, aprendendo mais sobre didática da arte, história da arte, abordagem de ensino integrado de língua e conteúdo. Porém, decidimos enfrentar estes desafios, imbuídas da certeza de que podemos fazer um bom trabalho com nossos alunos.

"Desde a educação infantil podemos propiciar um universo rico de aprendizagens em desenho, expandindo o universo cultural das crianças, trabalho que pode seguir orientado pelas ideias em ação das crianças. Essas ideias, motores dos atos de desenho, são construídas, primordialmente, na prática desenhista e na interação de cada um com a diversidade dos desenhos presentes nos ambientes."(IAVELBERG, 2006)

Quisemos compartilhar nossa experiência com outras professoras acreditando no poder da troca, da partilha e da construção conjunta de conhecimentos. Conhecemos os desafios enfrentados pelos que ainda ousam educar, mesmo em meio a tantas dificuldades enfrentadas no exercício de nossa profissão.

Partilhemos nossas dúvidas, nossas angústias, nossas críticas e aflições, pois se é o diálogo que nos mantém vivos, como dizia Paulo Freire, é o diálogo com os colegas que nos faz professores. Esta pode ser a mais difícil, mas é, com certeza, a mais necessária das profissões. Não vale a pena acreditar que podemos transformar tudo. Não podemos. Não vamos conseguir criar uma escola que vai salvar a sociedade. Mas quem é professor não deixa nunca de acreditar, sabe que renunciar às ilusões não quer dizer renunciar às diferenças. Significa nunca deixar de ter esperança [NÓVOA, 2004].

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, MEC/SEF, 1998
DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. 2 ed. São Paulo, Scipione, 2003.
IAVELBEG, Rosa. O desenho cultivado na criança: prática e formação de educadores. São Paulo, Zouk, 2006
MEHISTO, Peeter, MARSH, David e FRIGOLS, Maria Jesus. Uncovering CLIL: Content and language in bilingual and multilingual education. Oxford, Macmillan, 2008
MOURA, Selma de Assis. Quem de repente aprende: uma experiência de formação continuada em artes com professoras polivalentes na educação infantil. Revista Digital Art&. Disponível em http://www.revista.art.br/site-numero-10/trabalhos/18.htm
MOURA, S. M. Arte-educação para quê? Razões para ensinar arte. In: INSTITUTO ARTE NA ESCOLA. Monografias e Teses. Disponível em http://www.artenaescola.org.br/pesquise_monografias_texto.php?id_m=241
NÓVOA, A. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 1, p.11-20, jun 1999.
ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Sites:
www.sandraguinle.com.br
http://educacaobilingue.blogspot.com

Fecharam as cortinas, mas o palco se estende ao céu...

Após o abalo da fatídica noticia fúnebre da partida do célebre Augusto Boal, meus pensamentos e insights artísticos me cobraram feito brasa ao vento para meu manifesto perante tamanha voracidade pela arte.

A figura do escritor genial, do educador essencial e do militante cultural se apresenta em seu ultimo ato, mas seu legado, seus seguidores e suas pegadas de pesquisa nessa terra, triunfarão sob as mentes, que como ele, se preocupam com as mobilizações que a arte provoca.

Eu, em minhas tantas pesquisas artísticas, em minhas atuações a frente da TRUPE ORTAÉTICA DE TEATRO PERFORMÁTICO, me deparei diante da escrita poética desse escritor necessário para os que de fato contemplam o teatro como um jogo, como uma percepção social, li nas entrelinhas de seus livros a paixão pelo espetáculo que é viver.

Pessoas como o velho Boal não merecem um minuto de silêncio, merecem uma vida inteira de barulho, pois sua arte não se cala jamais, sua vontade em sacudir cérebros alheios não dormirá nunca e sobretudo o barulho harmonioso que sua trajetória artística nos deixou ecoará pelos quatro cantos do mundo, principalmente no mundo que há em cada um de nós.

Emergir para a eternidade é conseqüência desse mito brasileiro.

Seu teatro do oprimido coagiu opressores, vislumbrou utopias cada vez mais possíveis e foi mais que um comprimido de combate a inércia.

Que os Deuses teatrais lhe cortejem por novos caminhos e que me inspirem sempre a escrever páginas novas desse teatro peculiarmente humano, como mais um entre tantos de seus seguidores.

Professor Tiago Ortaet
tiagoortaet@yahoo.com.br
02/05/2009

sábado, 2 de maio de 2009

Reflexões sobre “Hermes e Dionísio” , de Praxíteles

Selma de Assis Moura

“Graças à Excelência de seu talento, Praxíteles não é desconhecido de homem nenhum, não importa quão inculto”
(Marcus Terentius Varro, séc I a.C.)




O Museu do Louvre exibiu, até meados de junho de 2007, uma exposição sobre Praxíteles que incluía “Hermes e Dionísio”, escultura aceita como original de Praxíteles, entre diversas cópias romanas de esculturas como a “Afrodite de Arles” e “A Afrodite de Cnidus”. Essas estátuas de Afrodite inspiraram muitas cópias romanas, também belíssimas, que nos instigam a querer conhecer o original de Praxíteles. Há lendas de que os homens se apaixonavam por elas, de reis que em vão ofereciam suas fortunas à cidade para tê-las!

O que chama tanta atenção em nossos dias nessas obras de mais de 2400 anos? Por que permanecem tão admiradas, despertam curiosidade e interesse? Talvez a resposta esteja na necessidade eterna do ser humano de auto-conhecimento, e elas permaneçam atuais por sua investigação do que é essencialmente belo em cada um de nós.

A Grécia já foi chamada inúmeras vezes de “berço da civilização ocidental”, pois seu legado histórico influenciou de tal modo as concepções de arte, filosofia, matemática, política, entre outras áreas do conhecimento, que não se pode conceber como seria nosso mundo atual sem as suas influências. E apesar de poucas obras de arte originais terem chegado até nós, forçosamente perceberemos que suas idéias se propagaram por toda parte, e podem ser vislumbradas em nosso dia-a-dia.

O aperfeiçoamento da técnica era caro aos artistas gregos, para quem o conhecimento dos materiais e a maestria em seu domínio refletiam a perícia e a habilidade de dar è pedra dura e perene um caráter transcendente, em que ela não era mais pedra, mas a própria imagem representada.

Para os gregos, a arte é uma forma de conhecimento do mundo, e essa visão é o legado que deixaram às gerações posteriores. Assim como o filósofo chega à verdade através do exercício do pensamento, os artistas gregos – que até então eram tidos como artesãos, “technites” – chegam à verdade através da representação. A partir de então o status do artista muda, ele adquire prestígio social, porque sabe fazer algo que os outros não sabem.

Através de sua observação da natureza e da compreensão daquilo que lhe é permanente – a proporção, a geometria – os gregos passam a buscar a harmonia e a verossimilhança com a realidade. O escultor preocupa-se com a textura da pele, a anatomia do corpo, o movimento retesando os músculos, a cor dos olhos.

Na temática da rica mitologia grega, a escultura adquire um caráter narrativo, feito para educar quem as contempla sobre os valores da sociedade. Os gregos foram o primeiro povo a elevar o caráter da figura, dando-lhe o mesmo status da palavra.
Pensando sobre a arte grega, e como ela se relaciona à arte-educação em nossos dias, eu quis refletir sobre a escultura “Hermes e Dionísio”, de Praxíteles, uma das poucas obras originais que chegaram aos nossos dias.

Por que escrever sobre desta obra, que já foi objeto de estudo por séculos, a ponto de que dificilmente se poderá dizer algo de inédito sobre ela? Para ampliar minha própria compreensão e dizer minhas próprias palavras sobre sua importância. E para pensar nas possibilidades de um trabalho educativo com crianças e jovens, desenvolvendo a apreciação estética, percebendo as possibilidades de interpretação e sua relação com a arte e o mundo atual.

Também a figura de Praxíteles, cuja fama chegou até nossos dias, é instigante e curiosa; Ateniense, filho de Cephysodotus, também escultor, foi o escultor mais reconhecido no século IV a.C, alcançou riqueza e glória. Dizem que tinha o hábito de dar presentes caros aos amigos. Uma das histórias curiosas sobre ele, contada por Cícero, diz respeito a sua modelo e amante, Phynes, que também posava para outros artistas. Acusada de impiedade, foi trazida à corte, e teve suas roupas puxadas pelo seu defensor, que mostrou ao júri seus magníficos seios. Após uma brilhante defesa, ela foi perdoada.

Praxíteles inovou em suas obras ao criar esculturas que podiam ser vistas por todos os ângulos, polindo o mármore para dar-lhe uma textura aveludada semelhante à pele, fazendo uso da luz e da sombra e criando a primeira estátua de nu feminino em tamanho real, a Afrodite de Cnidos, que tinha a novidade de ser radicalmente diferente do corpo masculino. Ele criou uma composição que ficou conhecida como a “curva de Praxíteles”, que foi muito imitada no período helenístico. Essa composição pode ser vista na escultura Hermes e Dionísio, à qual dá um movimento de graça e naturalidade.

Esta escultura em mármore, descoberta em Olympia em 1877, representa Hermes, mensageiro dos deuses, segurando Dionísio, deus das festas e do vinho, ainda criança, carregando-o afetuosamente. O braço direito, que se perdeu, trazia um cacho de uvas que Hermes oferece a Dionísio, para despertar sua curiosidade.

A figura de Hermes domina a composição. Seu corpo esguio deixa transparecer no mármore a musculatura em movimento, a textura da pele, a placidez do olhar, o gesto da mão que segura o deus-menino. O pé esquerdo levemente erguido e o tronco suavemente arqueado para a esquerda traduzem com leveza o que seria um momento de descontração. As feições são suaves, sem traduzirem uma emoção explícita, e evocam o ideal de beleza, perfeição e equilíbrio típicos da arte grega no período clássico.


Segundo Gombrich, é errôneo pensar que Praxíteles e outros escultores gregos criassem a perfeição através da observação de muitos corpos, dos quais descartavam qualquer característica que os desagradasse, fazendo uma cópia aperfeiçoada do real e idealizada da natureza. Gombrich chama nossa atenção para o caráter humano das esculturas, como se pudessem mesmo respirar, e atribui essa humanidade das esculturas ao delicado equilíbrio alcançado pelos artistas gregos entre o típico e o individual, “como seres humanos de verdade, mas ao mesmo tempo, como seres humanos de um mundo diferente e melhor”. A mímesis constituía não apenas em uma imitação da natureza, mas em uma representação daquilo que ela tem de permanente. É a idéia de homem, o conceito, mais que um homem específico que se quer representar.

Contudo, levará ainda algum tempo para que a arte grega passe a esculpir as características pessoais de um indivíduo no mármore. Para Praxíteles ainda não se colocava a possibilidade da escultura como retrato.

Dionísio, por sua vez, estende o braço na direção das uvas e ergue o olhar levemente para o alto, como que ansioso para alcançá-las. De seu corpo pende um drapejamento que prossegue até a base da escultura, feito para contrabalancear o peso do braço estendido de Hermes, agora perdido, dando equilíbrio à estátua. Dinísio parece um adulto em miniatura, pois Praxíteles ao esculpi-lo aplicou as mesmas proporções deu um corpo adulto. É interessante notar que muitos observadores leigos valorizam nas estátuas gregas sua aparência de realidade, sua verossimilhança com a natureza. Ao observar Dionísio podemos questionar se esse era, de fato, um objetivo do artista. Praxíteles, cuja habilidade fica evidente no conjunto dessa obra, poderia ter representado um bebê rechonchudo se assim o desejasse. Seu Dionísio não se parece com uma criança pequena real porque assim o escultor desejava.

O conjunto da escultura é harmônico, gracioso. Os dois personagens olham um em direção ao outro, criando um cenário de afetuosidade. Não há um elemento explicitamente divino: ao retratar os deuses em uma passagem mítica, Praxíteles os identifica com os homens. Belos, harmoniosos, serenos, mas ainda assim humanizados. É de se imaginar o efeito que esse tipo de representação causava em seus contemporâneos, ao mesmo tempo que, conhecendo a mitologia grega, sabemos das paixões, das ações e do caráter mundano dos deuses.

E é justamente pelas histórias dos deuses e deusas que eu proporia uma aproximação das crianças com a arte grega. Pensando em meu contexto de atuação – a educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental – faz muito sentido propor às crianças o conhecimento dos mitos que formaram a base do pensamento ocidental, identificando familiaridades com o que vivem em seu dia-a dia.

Partindo da leitura da obra “Hermes e Dionísio”, poderia-se propor às crianças que pesquisassem nos livros da escola, na internet e em casa, histórias da mitologia grega e, a partir dessa pesquisa, introduzir outras obras e suas histórias, tais como Laocoonte e Athena Partenon, de Fídias. Poder-se ia também montar uma linha do tempo marcando os principais eventos que as crianças conhecem (tais como a existência dos dinossauros, o surgimento dos homens das cavernas, o nascimento de Jesus, o tempo dos castelos medievais, os dias atuais, etc) e nessa linha contextualizar o período de produção das obras, formando uma noção temporal e histórica.

A partir dessa introdução poderíamos programar momentos de leitura de alguns mitos gregos, tais como: Ìcaro, Narciso, Posseidon, Atena, Afrodite, Ártemis, Perseu e Medusa, Heracles, Os Argonautas, entre outros. As crianças identificarão personagens com os quais já têm contato através de desenhos animados e filmes infantis, percebendo qual é a origem desses personagens.

Em momentos de apreciação de fotos das obras podemos discutir as formas, cores, materiais empregados, modo de produção, e exercitar com as crianças a escultura em pedaços de mármore (que seria bastante duro e difícil para elas) e em tijolo (mais mole e poroso), para que percebam que o modo de produção das esculturas gregas difere do que estão habituados na escola, pois retira materiais ao invés de acrescentá-los (como ocorre com a modelagem em argila ou massa de modelar), além de conhecerem os desafios que o material coloca ao artista.

São muitas as possibilidades de trabalho que permitam às crianças conhecer e apreciar a arte ao longo do tempo. Conhecer a arte grega antiga é indispensável para a compreensão da arte como um todo e da cultura ocidental até hoje.

Referências:
Durando, Furio. A Grécia Antiga. Coleção Grandes Civilizações do Passado. Barcelona, Ediciones Folio.
Gombrich, Ernst. A História da Arte. LCT Editora
Museu do Louvre, visita virtual à exposição: http://mini-site.louvre.fr/praxitele/index_flash_en.html
Grécia Antiga: http://greciantiga.org/art/
Indicações de Leitura para as crianças:
Lobato, Monteiro. O Minotauro. Brasiliense
Lobato, Monteiro. Os Doze Trabalhos de Hércules. Brasiliense.
Figueiredo. Lenita Miranda. História da Arte para Crianças. São Paulo, Pioneira.
Pouzadoux, Claude. Contos e Lendas da Mitologia Grega. São Paulo, Companhia das Letras.
Bernardino, Adriana. A Beleza de Narciso. FTD.
Bernardino, Adriana. O Sonho de Ícaro. FTD.